sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Coisas casuais.

Era dia 25 e ele caminhava pelas ruas de São Paulo enquanto observava uma movimentação estranha, um grupo de pessoas que comemoravam não sei o que com uma garrafa de vinho na mão e um sorriso aberto no rosto. Era dia 25 e ele não comemorava nada, apenas caminhava e conversava com estranhos nas ruas de uma cidade morta, perguntava-se acerca do mundo, dos motivos que impulsionavam aquilo tudo e das pessoas, esses seres-contorno, sem conteúdo, sem nada. Que pessoas são essas? Que bando de andorinhas sem verão são essas que voam sem ter onde pousar? Quem? Eu não sei.
E o que restou do que era pra ser eterno? O que restou dessas almas abandonadas? Restou essa dor escondida num copo de vinho, esse nada que diz ser tudo. Esse vazio e fim.
Restou-nos inventar datas para que pudéssemos ter uma aproximação maior, um abraço menos forçado, um sorriso menos fingido. Restou essa vida que não nos cabe, não nos move, não nos alegra.
Restou-lhe viver. Sobreviver.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Fragmento.

E parece, então, que aquele quarto continuava ali, vazio e escuro, para que eu pudesse entrar às vezes e deitar num canto qualquer, onde passaria a noite lembrando de momentos que não devia e cantarolando músicas que já deveriam ter sido esquecidas. E quando acordasse no outro dia, com os olhos pequenos depois de tantas lágrimas, traria alguns móveis, um som com novos discos, e até um quadro para pôr na parede verde e arrumaria tudo pra criar um novo ambiente, daí eu dormiria com um sorriso enferrujado no rosto, sabendo que aquele ainda era, mesmo depois da mudança, o seu quarto. O nosso quarto.