Não te culpo por essa minha palidez, a vida fez questão de mostrar os bônus de ser invisível. O veneno já não demora a fazer parte do meu sangue e a concentração é cada vez maior, torno-me cada vez menos frágil, menos sucinta aos seus ataques, seu soro.
Talvez o mais difícil seja encarar as pessoas para as quais ainda existo, ninguém vê que tudo isso serve-me de fortificante, que cada vez que endureço, chego mais perto da felicidade. Minha invisibilidade incomoda essas pessoas, mas não as entendo, está tão confortável aqui. Sem eles, sem você.
Assim como a mentira, que contada várias vezes torna-se verdade, tomo esse veneno como quem toma água, pois ele já faz parte de mim. Bebo, sem pena de mim, sem pena de você ou de qualquer outra pessoa. Sigo, envenenada e sorrindo, para qualquer lugar bem longe daqui. Procuro outras pessoas, outros sonhos e outros goles de outros venenos, porque o seu já não faz mais efeito. Adeus.