quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A mala.

Tenho tentado retirar algumas coisas da minha bagagem, coisas que não usarei na viagem ou que já não me servem de modo algum. O motivo dessa seleção é o peso, pois não tenho forças pra carregar nada além dessa mala de mão que sempre me acompanha. Tenho tentado retirar algumas coisas do meu coração, mas parece que essa retirada, logo essa que é tão importante, não tem surtido muito efeito, o peso continua o mesmo ou até maior, as vezes exito em dar passos largos, temendo fraquejar no meio do caminho, mais uma vez. Quem diria que o silêncio pesa tanto, que a falta de tudo que eu carregava seria mais dolorosa em meus ombros que a presença delas? Não dava pra prever, até porque o coração não antecipa aquilo que ele não aceita. E mesmo assim, com tanto sentimento sobrando, com tantas palavras não ditas e com tantas conversas inacabadas, fecho a mala e ponho a passagem no bolso, pois a vida, tão apressada que é, não pensaria duas vezes antes de me deixar sozinha no trem. Sigo, então, com a mala leve e o peito cheio de um vazio que pesa e me dói, pronta pra descer em qualquer estação que pareça diferente daquela em que embarquei.