quinta-feira, 10 de março de 2011

Caixa.

Lembro-me de um dia que eu tinha decidido ficar em casa, sozinha, cuidar das plantas e do meu cachorro. Só. Liguei pra ele e disse que estava doente, que não daria pra sair com o pessoal porque tinha medo de contagiar ou enojar os mais frágeis. Depois dos afazeres, eu alugaria um filme e faria pipoca no microondas. Quatro minutos, nada mais, nada menos, pra não queimar como da outra vez. Seria o dia perfeito, o meu dia.
Não fiz nada disso, é claro, como já era de se esperar. Primeiro que a minha cama estava me envolvendo de um jeito que não dava pra abandonar, então passei horas procrastinando, coisa que eu sempre fiz bem. Depois fui arrumar o guarda-roupas e encontrei uma caixa, dessas que você abre com medo, pois o passado pode vir devastador e dar um tapa na sua cara, abri pensando que não tinha nada demais ali, mas tinha, sempre tem. Comecei a tirar aquelas fotos e cartas que deveriam estar em uma lata de lixo qualquer ou, com toda minha mania de ser ecologicamente correta, em alguma associação de reciclagem, mas não era o caso, estavam ali em minhas mãos, queimando meus dedos como uma xícara de café recém posto. Tem horas que a gente não descansa até que a brisa do passado volte a balançar nossos cabelos.
Ri e reli as cartas, olhei cada detalhe das fotos, reparei em todos os defeitos, os meus e os seus, é claro, pra me convencer de que se era passado, é por que não tinha motivos pra ser presente. Eu sempre fui muito besta em relação a essas frases de efeito, mas naquele dia eu percebi que isso não tinha sentido, porque, em meio àquelas lembranças, mesmo com todos os dentes tortos, olheiras, espinhas, lixo na rua, eu só consegui reparar na perfeição de estarmos juntos, na eternidade que aqueles momentos pareciam ter.
Depois de passar metade do dia revivendo, em sonhos, tudo aquilo, eu só conseguia pensar em você. Quem era você agora? Quem se tornou aquele homem que conseguia transformar qualquer defeito em detalhe? Quem sou eu sem você? Desandei a procurar qualquer contato seu. Achei um cartão do seu emprego e pensei em não ligar pois qualquer um já teria trocado de número, mas lembrei que você não era qualquer um e que nunca trocava de chip, só de aparelho. Liguei e, como quem não queria nada, perguntei as novidades e depois de meia hora de conversa (assunto nunca nos faltou), já tínhamos marcado um encontro no café que tinha aberto uma semana antes no shopping.
Hoje tento lembrar por qual motivo nós tínhamos nos afastado, porque diante dessa sintonia, não consigo pensar em nada que possa ter desviado nossos rumos. Só sei que agora, contando essa história pra você, só posso ter certeza que você nunca foi passado, sempre foi presente, futuro ou qualquer outra coisa que possam inventar. Só sei que você nunca foi, você é e sempre será essa coisa dentro de mim que não acaba nunca.

Um comentário:

  1. "você é e sempre será essa coisa dentro de mim que não acaba nunca" e que eu nunca vou querer que acabe. Que Lindo, Thai eu amei.

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